Sobre escolher errado (e o que você NÃO deve fazer)

Cristiane Dantas
3 min readJul 31, 2019

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Eu não sei desde quando a ideia de fazer uma faculdade foi introduzida em minha mente, mas lembro que desde, ao menos, os 10 anos de idade eu já tinha consciência que precisava me dedicar, estudar em boas escolas e entrar para uma instituição de ensino superior. Apesar de não saber o “quando”, sei bem o “quem”: minha mãe, que conseguiu concluir o ensino médio aos 29 anos, sempre me abordava sobre o que eu iria cursar. Paralelamente, a pressão para que eu fosse a primeira da família a ascender financeiramente também entrava pela minha cabeça com as palavras dos familiares. Talvez tenha sido por conta dessa pressão que optei por fazer Arquitetura (curso que até hoje é mistificado pela população brasileira como “curso de gente rica”. Quem sou eu para discordar, vendo colegas passarem férias em outros países?) ao invés de música, ou até mesmo administração, que por ironia do destino descobri ser a área que eu quero de fato me aprofundar.

De qualquer forma, quando você cresce com essa pressão, você passa a achar normal certos padrões: ansiedade, estresse, insônia. E começa a julgar quem não cresceu com a mesma ambição. Me lembro de tagarelar ao pé dos ouvidos dos meus amigos “mas para você conseguir ser alguém, você precisa de um diploma!”. Amigos de Montes Claros: peço perdão pelo vacilo.

Então eu consegui. Fui da primeira turma do SISU, e passei nos dois cursos que dispus minha nota. O primeiro era Administração (estava como segunda escolha — vai que…?), e o segundo… Arquitetura e Urbanismo. Jackpot! Me mudei em 3 dias para um lugar que nunca conheci, entusiasmada com a felicidade da minha mãe, da minha tia-avó e até mesmo do meu pai, uma figura ausente emocionalmente da minha vida.

E eu também estava orgulhosa de mim mesma. Quantos jovens de 18 anos vão embora sozinhos com uma mala e uma caixa, para um lugar 500 km distante de qualquer pessoa que conhece?

No fim, o sonho se tornou pesadelo. A ansiedade virou doença, junto com toda a sua turma, impulsionados pelo grandão do beco: a depressão que eu nunca havia tratado, mas que demonstrava traços desde a pré-adolescência. Me sentia sozinha e fracassada, porque colocava (coloco ainda) minha régua em um nível muito alto. Até nos dias atuais, mesmo tendo sido monitora da faculdade, ter feito iniciação científica e outras milhões de coisas e projetos, e até ter meu TCC (chamamos aqui de TFG) aprovado, eu ainda me vejo como uma sacola de plástico.

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Mas devo admitir o ponto de virada: o Movimento Empresa Júnior veio para me ajudar a descobrir meu propósito. Me deu amigos, oportunidades, me ensinou sobre ser uma profissional melhor e uma pessoa melhor.

E me mostrou que eu não estava no curso certo.

Hoje — e não me orgulho disso — eu estou lutando para acabar uma faculdade que eu não gosto e que estou presa a mais tempo do que deveria (sério, MUITO mais tempo), enquanto sonho em já estar trabalhando, ajudando pessoas a se sentirem mais incríveis do que eu já fui capaz de sentir. No fim, o meu diploma como arquiteta será de utilidade apenas para algum freela ocasional. E claro, o meu futuro MBA em gestão empresarial…

Então se você chegou até aqui, preste bem atenção: ver sua velha feliz por você ter passado na faculdade é, sem sombra de dúvidas, sensacional. Fazer parte dos 15% da população brasileira que cursa ou cursou um ensino superior é um privilégio sem tamanho.

Mas faça isso com consciência. Não adianta os outros lhe aplaudirem enquanto você está chorando de frustração por dentro. Não adianta lhe chamarem de “maravilhosa” na internet enquanto você lê tais mensagens deitada em sua cama, com vontade de apenas sumir.

Se descubra. A faculdade é um inferno (na maioria dos casos), se você tiver a melhor companhia para atravessar esse inferno junto a você as coisas serão muito mais fáceis e rápidas.

E não há melhor companhia do que a de si mesmo.

Se respeitem, porque no fim… É só você.

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Cristiane Dantas

Gosto de flores, gatos e filmes. E, de vez em quando, escrevo para botar a tristeza pra fora.